Prevenção proativa contra o divórcio
- Edição JA
- 2 de abr.
- 9 min de leitura
“Construa o que o mundo quer destruir”.
Um relacionamento não acaba da noite para o dia: é sempre o resultado de crises, frustrações ou incompatibilidades não resolvidas ao longo do tempo. Casamentos morrem devagar. Tanto nos bons relacionamentos como nos maus as pessoas sempre agem: ou explicitamente ou vão dando sinais dia após dia. E, sabemos, todo conflito não resolvido tende a se agravar. Daí a necessidade de trabalhar preventivamente na solução dos atritos cotidianos.
São muitas áreas do relacionamento que os casais precisam “orar, vigiar e cuidar”, sempre, mas vamos destacar apenas três neste estudo: 1ª - a questão da falta de reciprocidade amorosa, ou que se chama de falta de proporcionalidade de investimento mútuo; 2ª - quando o cônjuge deixa de ser prioridade no relacionamento e 3ª - restaurando o relacionamento.
1ª SEJA RECÍPROCO
Só existe relacionamento porque duas pessoas decidiram a viver juntos, se escolheram, a fim de construírem uma história de amor.
Prioridade tem muito a ver com a maneira como o cônjuge trata um ao outro. Quando a pessoa quer, de fato, não fica inventando desculpas: ela cria oportunidades. Quando a pessoa faz questão de estar com você, você será prioridade. Vai procurar uma forma de encaixar o outro em sua vida. Vai tratar o outro com a mesma consideração que gostaria de ser tratado, como Jesus fala da Regra de Ouro da ética cristã: “Trate os outros como quer que os outros tratem você” (Lc 6:31).

É sempre causa de sofrimento e frustrações quando ocorre no relacionamento a falta de proporcionalidade de investimento mútuo. Há um desequilíbrio na manifestação de afeto e de cuidados de um para com o outro: você sempre dá mais do que recebe. A triste realidade que se enfrenta quando se dar demais é quando a pessoa que ama tem que implorar por quaisquer migalhas de atenção e afeto. Muitas vezes apenas um só faz, só um dá satisfações, só um pede perdão quando erra, só um se humilha, só um se interessa pelo outro, só um toma iniciativa, só um publica seu relacionamento amoroso. Isso só ocorre porque o relacionamento só existe porque apenas um cônjuge quer que o relacionamento exista.
Há pessoas que empurram a pessoa amada para longe delas. Elas fazem de tudo para perder seu cônjuge. Implicam com tudo. Brigam por qualquer coisa. Reclamam o tempo inteiro. Não há elogios ou nenhum senso de gratidão. Muitas vezes essa pessoa só quer ser amada pelo outro, mas se recusa a amar. As coisas só se complicam porque um não quer. Na maioria das vezes, nem se apercebem que suas atitudes diárias estão machucando, menosprezando, diminuindo o outro. O silêncio também é resposta. O vácuo ou a indiferença são sinais universais do desinteresse. É uma forma de demonstrar que o relacionamento é irreal ou impossível. Se a pessoa não manifesta interesse em procurá-lo(la), com certeza você não é prioridade!
Nesse sentido, a Sulamita tem muito a nos ensinar: “A noite toda, sobre o meu leito, procurei por aquele a quem o meu coração ama; procurei-o, mas não o encontrei. Vou levantar-me, agora, e percorrer a cidade, irei por suas ruas e praças; procurarei por aquele a quem o meu coração ama; procurei-o, mas não o encontrei” (Ct 3:1-2, NVI). Quem ama se torna proativo: procura, corre atrás, liga, preocupa-se com o outro. Feliz quem acha alguém que o(a) trata como uma grande riqueza da vida, como um tesouro, que fale para todo mundo a grande sorte em tê-lo(la) em sua vida: “O meu amado é meu, e eu sou dele” (Ct 2:16).
Uma coisa que se destaca claramente no poema dramático de Cantares de Salomão é o amor recíproco entre Salomão e a Sulamita:
Cântico dos Cânticos de Salomão. 2 Ah, se ele me beijasse, se a sua boca me cobrisse de beijos... Sim, as suas carícias são mais agradáveis que o vinho. 3 A fragrância dos seus perfumes é suave; o seu nome é como perfume derramado. Não é à toa que as jovens o amam! 4 Leve-me com você! Vamos depressa! Leve-me o rei para os seus aposentos! Estamos alegres e felizes por sua causa; celebraremos o seu amor mais do que o vinho. Com toda a razão você é amado! (Ct 1:1-4)
Todo o livro de Cantares se desenvolve através de diálogos entre vários personagens: o amado, a amada, as amigas, o coro, os irmãos. Nesse início do poema, a Sulamita manifesta a sua paixão por seu noivo. Elogia efusivamente! Exalta-lhe as qualidades. E qual a reação dele? Na mesma moeda:
Você fez disparar o meu coração, minha irmã, minha noiva; fez disparar o meu coração com um simples olhar, com uma simples jóia dos seus colares. Quão deliciosas são as suas carícias, minha irmã, minha noiva! Suas carícias são mais agradáveis que o vinho, e a fragrância do seu perfume supera o de qualquer especiaria! Os seus lábios gotejam a doçura dos favos de mel, minha noiva; leite e mel estão debaixo da sua língua. A fragrância das suas vestes é como a fragrância do Líbano (Ct 4:9-11).
Sua resposta não fica aquém da paixão e interesse manifestados por sua amada. Isso é reciprocidade! Também é possível perceber como eles são recíprocos, por exemplo, no trecho de Cantares (1:15-16). Salomão diz: “Como você é linda, minha querida! Ah, como é linda! Seus olhos são pombas”; e ela responde: “Como você é belo, meu amado! Ah, como é encantador”!
Uma coisa que se destaca no relacionamento amoroso de Salomão e a Sulamita, como também no de qualquer um, comprometido com seu(sua) companheiro(a), é a necessidade de não esconder seu relacionamento com a pessoa amada: “Sua boca é a própria doçura; ele é mui desejável. Esse é o meu amado, esse é o meu querido, ó mulheres de Jerusalém” (Ct 5:16). Muitas vezes, casais que não publicam seu relacionamento com a pessoa amada é porque: 1. Ainda não tem certeza de que ama; 2. Não quer se comprometer seriamente com a pessoa, mas apenas “ficar”, apenas curtir a vida com a pessoa; 3. Ainda tem alguns contatinhos que não quer perder.
Como anda o nível de mutualidade em seu relacionamento conjugal? Há mais a agradecer ou a reclamar? Reavalie suas atitudes. A reciprocidade é um pilar fundamental para o bem-estar no relacionamento amoroso.
2 PRIORIZE SEU CÔNJUGE
Há uma hierarquia do amor no matrimônio. Para que um casamento funcione, é preciso respeitar a ordem natural das prioridades: Deus no centro, o cônjuge em primeiro lugar, os filhos em seguida e, depois, as demais responsabilidades.
Em Gênesis 2:24, está escrito: "Portanto, deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne". Ao se casar, marido e mulher formam uma unidade primordial; constituem sua própria família, desligando-se[1] cada um de suas famílias originárias. Wesley (2024) afirma: “o cônjuge precisa ser a pessoa em quem se confia, compartilham-se os sonhos, e com quem se enfrentam as dificuldades cotidianas. Colocar outras pessoas acima do cônjuge pode criar um ambiente de competição emocional e diminuir a força da união conjugal”. A prioridade agora não são mais seus pais ou demais parentes, mas seu cônjuge. Pais viram parentes, mas seu cônjuge é a sua nova família.

Muitos conflitos seriam evitados no relacionamento conjugal se esse princípio bíblico fosse observado. A triangulação, em que um cônjuge acaba sendo colocado em uma posição de rivalidade com outro membro da família, como a mãe ou o pai, é sempre prejudicial. É preciso cortar o cordão umbilical com os pais, deixar de ser meninos e meninas. O novo arranjo familiar exige pessoas maduras, autônomas, para tomar as decisões inerentes ao novo projeto de vida a dois. Como diz o psicólogo Josué Wesley (2024): “Quando se entra em um relacionamento, a expectativa é que as duas pessoas envolvidas criem um espaço exclusivo entre si, onde possam viver suas experiências, tomar decisões importantes e enfrentar os desafios da vida a dois”. Não permitam, portanto, que parentes interfiram em seu novo relacionamento. Vivam suas vidas tomando suas próprias decisões, priorizando as metas e sonhos de sua família.
Wesley (2024, p.1) ainda diz:
Quando alguém coloca sua mãe ou outro membro da família acima do cônjuge, pode criar um ciclo de insatisfação emocional, insegurança e distanciamento no relacionamento. Em termos psicológicos, isso pode ser descrito como uma quebra na “aliança emocional”, que é a base para a confiança e intimidade no casamento. Os parceiros podem começar a se sentir negligenciados, desvalorizados ou até mesmo ignorados. Além disso, o parceiro que está sendo colocado em segundo plano pode sentir que o relacionamento não é uma prioridade, o que pode levar ao ressentimento, frustração e, em casos mais graves, ao afastamento emocional.
E Wesley (2024, p. 1)) conclui dizendo que “a prioridade do casamento não deve ser vista como um ato egoísta, mas sim como um compromisso mútuo de construção de uma vida em conjunto. Colocar o cônjuge como a principal pessoa de confiança e apoio não significa excluir outras relações, mas sim fortalecer o laço que uniu o casal”.
Esse mesmo princípio também se aplica ao relacionamento pais x filhos. Primeiro os cônjuges; depois, os filhos. A melhor coisa que um pai pode fazer é amar a mãe de seus filhos. Quando os pais se amam, vão amar com o mesmo desvelo e carinho seus filhos, que são frutos de seu relacionamento conjugal.
Nesse sentido, diz o Pr. Roberto T. Santos (2013, p. 1):
O pedocentrimo é prejudicial às crianças e danoso ao casamento. Colocar os filhos no centro da relação é desviar o foco da própria relação. Erroneamente, alguns pais nutrem o mito de que: Quanto mais atenção damos aos nossos filhos, melhores se tornarão. Onde estão os resultados? Estudos mostram que os pais modernos passam mais tempo com os filhos que no passado, entretanto, eles não parecem mais felizes, independentes ou bem-sucedidos. Eles parecem mais perturbados, ansiosos e carentes.
Quando se prioriza o cônjuge, ficará mais fácil dar atenção, não deixa para depois o que tem que fazer, preocupa-se um com o outro, não trata o outro como segunda opção, faz um enorme esforço para ajustar alguns comportamentos e atitudes, e faz isso principalmente porque não quer perder a pessoa amada. Ninguém é tão ocupado que não possa dedicar pelo menos 4 segundo do seu dia, que tem 24h, para dizer um simples “te amo!”
3 - RESTAURE SEU RELACIONAMENTO
Trate e supere as feridas do passado. Muitas vezes feridas não curadas cujas raízes podem ter vindo da infância acabam interferindo negativamente em seu relacionamento atual. Não permita que suas feridas moldem sua forma de amar. Não se torne aquilo que o(a) feriu. Não avalie as pessoas pelo diapasão de seus fracassos do passado.
Integre seu cônjuge em sua vida. Pergunte-lhe o que você pode fazer para ajudá-la. Seja solícito. Pergunte se está bem. Preocupe-se com ela(ele). Diga-lhe onde você está, o que está fazendo. Avise-a(o) de que chegou. Transmita sempre segurança em seu relacionamento conjugal.
Evite paranoias, causadas pela ansiedade, e comportamento narcisístico[2], caracterizado por um padrão de grandiosidade, falta de empatia e necessidade de adulação, em seu relacionamento.
Descubra qual a linguagem de amor preferida por seu cônjuge: ajudar o(a) parceiro(a), contato físico, dar presentes, palavras de afirmação, momentos agradáveis. Amor nem sempre é sobre compatibilidade, mas sobre adaptabilidade.
Cultivem uma espiritualidade alinhada. Que a fé os sustente a cada dia. Orem sempre por seu relacionamento conjugal. Orem juntos. Façam o culto doméstico. Não descuidem de sua devocional diária. Procurem ajuda espiritual ou, se o caso for grave, recorram a um especialista na área da saúde mental.

Se você quer realmente salvar seu casamento não economize na manifestação de afeto. Seja emocionado mesmo! Invista na intensidade de sua conexão com seu cônjuge: desligue o celular; diga que ama; elogie; honre seu cônjuge na frente de outras pessoas; conversem sobre si mesmos, mais do que sobre problemas e logísticas; toque um no outro; olhem-se nos olhos; beijem-se na boca, beijos demorados (6 segundos pelo menos); valorizem o que seu cônjuge faz e tente agradar seu(sua) parceiro(a).
Alguém já disse, concluindo, que: o contrário do amor não é o ódio. É a indiferença. Quando um dos dois para de se importar, o relacionamento já está morto. Construa o que o mundo quer destruir. Deus os abençoe!

Pr. Carlos Magno Vitor da Silva
(75) 8808-3305
REFERÊNCIAS
HOSPITAL SANTA MÔNICA. 6 sinais do transtorno de personalidade narcisista. 2024. Disponível em<https://hospitalsantamonica.com.br/pesquisa-identifica-alteracao-cerebral-do-transtorno-da-personalidade-narcisista/#:~:text=O%20Transtorno% 20de%20 Personalidade%20Narcisista%20%C3%A9%20uma%20condi%C3%A7%C3%A3o%20psicol%C3%B3gica%20marcada,de%20empatia%20pelos%20sentimentos%20alheios.>. Acesso em: 27/3/2025.
SANTOS, Roberto T. Quem é a sua prioridade, seu cônjuge ou filhos? Disponível em:< https://oitavaigreja.com.br/ministerio-familia/blog/quem-e-a-sua-prioridade-seu-conjuge-ou-filhos/>. Acesso em: 27/3/2025.
WESLEY, Josué. A Prioridade do Casamento: Como Construir um Relacionamento Saudável e Duradouro. 2024. Disponível em:< https://josuewesley.com/2024/11/27/a-prioridade-do-casamento-como-construir-um-relacionamento-saudavel-e-duradouro/#:~:text=A%20prioridade%20do%20casamento%20n%C3%A3o,la%C3%A7o%20que%20uniu%20o%20casal.>. Acesso em: 27/3/2025.
[1] Naturalmente que se refere a um desligar-se no sentido físico-espacial, psico-emocional e econômico, mas não implica abandono afetivo dos pais. Honrar os pais é mandamento divino para toda a vida: Êx 20:12.
[2] “O Transtorno de Personalidade Narcisista é uma condição psicológica marcada por um padrão de comportamento que combina arrogância, necessidade excessiva de admiração e uma falta quase completa de empatia pelos sentimentos alheios” (Hospital Santa Mônica, 2024).
AS IMAGENS DENTRO DO TEXTO FORAM ENVIADAS PELO AUTOR DA MATÉRIA E SÃO DE SUA RESPONSABILIDADE
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