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Foto do escritorEdição JA

Os preconceituosos e os intocáveis nas igrejas

Tiago 2.1-9

A igreja local é o lugar da coletividade, da reunião dos cristãos. O lugar de culto congregacional, adoração e comunhão. Também é, desde a era apostólica, o lugar de disciplina, de correção, de perdão e de resolução de problemas relacionados aos nossos pecados como membros do Corpo de Cristo (Mt 18.15-17).


Na igreja ninguém é melhor ou pior, mas sabemos que pelo fato de sermos pecadores, teremos em nosso meio, irmãos preconceituosos e irmãos intocáveis. Teremos práticas extremadas e a tendência de valorizar, exacerbadamente alguns, e discriminar outros fazendo acepção de pessoas tanto pelo desprezo quanto pela hipervalorizarão.


As causas para isso são muitas: étnico racial, econômico, social, cultural, de gênero, usos e costumes, e até os mais banais, relacionados gostos e preferências pessoais. É necessário refletir sobre esse mal, a título de prevenção, para não afetar a comunhão no contexto da igreja local e para não inibir a ação do Espírito Santo. Não podemos admitir comportamentos que contradizem os princípios fundamentais da fé cristã impedindo a inclusão pela intolerância pecaminosa.


A primeira manifestação marcante de preconceito e discriminação dentro das igrejas locais surgiu da religiosidade e teve relação direta com questões raciais e étnicas, envolvendo definições e práticas culturais relacionadas a usos e costumes. O Concílio de Jerusalém em Atos 15 é o primeiro exemplo de como se deve lidar, na igreja, com os problemas que surgem.


Os fariseus eram judeus que observavam rigidamente a lei de Moisés e a tradição. Assim, quando alguns dos fariseus se converteram ao evangelho de Jesus Cristo, quiseram continuar seguindo suas tradições e, ao mesmo tempo, exigir que todos na Igreja, inclusive os gentios, deveriam fazer o mesmo. Paulo sabia que isso não estava certo porque a lei de Moisés, inclusive a exigência da circuncisão, tinha sido cumprida em Jesus Cristo. (Lc 24.44). Cristãos judeus e gentios estavam desobrigados da lei cerimonial e das tradições dos antigos. Daí a necessidade do concílio de Jerusalém para resolver o imbróglio criado pelos legalistas discriminadores. Aliás esses mesmos fariseus haviam sido alvo das mais duras palavras de Jesus durante seu ministério.


Jesus teve uma relação conflituosa com os fariseus e os saduceus. Com os fariseus devido ao legalismo religioso e de usos e costumes. Com os saduceus porque achavam que na política encontrariam soluções. Embora houvesse muita intolerância e desconfiança mútua entre fariseus e saduceus, eles se aliavam contra Jesus.


O texto de Tiago 2.1-9 tem possibilidade de nos ensinar como devemos agir em relação aos preconceituosos e aos intocáveis das igrejas. Há alguns exemplos que podem nos ajudar na identificação desses problemas.

Há muitos anos, uma igreja da Califórnia, EUA, estava envelhecendo.

Decidiram contratar um jovem pastor para alcançar jovens com o evangelho e trazê-los para a igreja. Aquele pastor jovem trabalhou intensamente e obteve tanto sucesso na sua tarefa que, em pouco tempo, aquela igreja estava repleta de jovens convertidos. Porém, aos olhos dos preconceituosos legalistas, aquilo não os agradava. Aqueles jovens, em sua maioria, eram "hippies" de cabelo comprido, pés descalços e modos estranhos à cultura da igreja.

Pouco tempo depois, o jovem e dinâmico pastor foi despedido pela mesma liderança que o havia contratado. Os intocáveis e preconceituosos daquela igreja local disseram ao jovem pastor, em referência aos novos integrantes da igreja: “Você está trazendo todo esse lixo para dentro a nossa linda igreja, e esse não é o perfil que queremos”.


O Capítulo 2 de Tiago usa como exemplo o rico e o pobre e o favoritismo pessoal para aquele que pertence à classe média, ou rica e muitas vezes a marginalização daquele que pertence uma classe social inferior ou que não tem boa formação acadêmica e cultural. Aos diferentes, enfim, que transcende o problema de classe social. Por isso, os princípios expostos por Tiago, são aplicáveis para todo tipo de acepção de pessoas e preconceito.


Tiago se dirige aos leitores de sua carta como: "Meus irmãos" (2.1). Portanto, sua admoestação é direcionada aos crentes. Ao mencionar: "A fé em nosso Senhor Jesus Cristo”, está se referindo ao aspecto prático da fé cristã, sem fazer acepção de pessoas. A acepção de pessoas não está em conformidade com os princípios do cristianismo.


O versículo primeiro fala do Senhor Jesus Cristo como glorioso, pois Ele é a própria Glória. Portanto, é incoerência dizer que confiamos em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo se fazemos acepção de pessoas. Deus não faz acepção de pessoas (Rm 2.11 Ef 6.9 Cl 3.25) e os crentes devem seguir na mesma direção. O Senhor Jesus nunca manifestou parcialidade. Ele tratava ricos e pobres da mesma forma. Diferenças raciais, educacionais ou financeiras não afetaram o trato e o relacionamento do Senhor Jesus com as pessoas.


Temos três fatos ocorridos em nosso meio que retratam a parcialidade e a falta de espírito cristão nas igrejas. O primeiro foi o relato de um obreiro que trabalhava com crianças em uma igreja de um bairro de pessoas de classe média. Ao dizer que tinha interesse em trazer dois meninos e suas famílias, oriundas de uma comunidade próxima, mas de classe bem mais pobre, ouviu de uma irmã: "Eles não fazem parte do perfil de pessoas que queremos para nossa igreja".


O segundo caso foi o de uma jovem de 17 anos que engravidou do seu namorado mais velho que ela. Ambos eram membros da mesma igreja e, para não escandalizar a liderança conservadora, resolveram praticar aborto. O caso veio à tona, mas como um dos jovens era de uma família de fundadores da igreja, figurando entre os intocáveis, abafaram tudo e nem disciplina houve.


O terceiro exemplo foi o caso de um empresário rico que frequentava uma igreja há um bom tempo. A liderança tomou conhecimento que ele era desonesto em seus negócios e sonegador de impostos. Nunca foi disciplinado porque era o maior dizimista da igreja e, através dele, angariavam fundos para uma ambiciosa reforma do prédio da igreja.

Este tipo de acepção de pessoas impede a operação do Espírito Santo nas igrejas que preferem manter os intocáveis. Não podemos deixar de atentar para a expressão "não tenhais" (Tg 2.1) que indica que os leitores desta carta estavam fazendo acepção e favoritismos pessoais. Tiago procura mostrar que acepção de pessoas não está em conformidade com alguém que crê em Deus e tem Cristo como Salvador pessoal (Lv19.15; Sl 82.2-3).


De acordo com estudiosos do grego, a expressão que é traduzida por “acepção de pessoas” (Tg 2.1), literalmente significa: “levantar, erguer, elevar, ou subir o rosto de uma pessoa”, ou seja, mostrar-se favorável, ou parcial para com alguma pessoa. Tiago trata com dureza a prática do favorecimento entre os cristãos. Ele se preocupa com o aspecto prático do cristianismo (Tg 1.22-27; At 10.34-35; Dt 1.17).


Devemos praticar a Palavra de Deus contando com o poder capacitador do Espírito Santo, seguindo o exemplo do Senhor Jesus que nunca faz acepção de pessoas (Mt 22.16; Jo 7:24; 4.1-27). Jesus passou por cima do preconceito de grande parte dos judeus, principalmente dos mestres da lei. Um exemplo conhecido é João 4, quando ele trata com uma mulher que, além de pecadora, era samaritana, povo rejeitado pelos judeus. Jesus condenava o pecado e amava o pecador, fosse ele de qualquer classe social, raça, gênero, estado civil, profissão, vestimenta, são ou doente, viciado, etc. Nada o impedia de se aproximar das pessoas e demonstrar amor.


As igrejas locais desempenham um papel crucial na vida espiritual e social dos seus membros. São espaços destinados a promover a fé, a comunhão e a prática dos ensinamentos de Jesus Cristo. No entanto, como em qualquer outra comunidade, as igrejas locais também podem enfrentar desafios relacionados ao preconceito e à formação de grupos de "intocáveis" entre os congregados.

Infelizmente neste século 21, nada mudou em relação ao que ocorria no primeiro século. Os preconceituosos e os intocáveis estão por aí causando danos às igrejas locais. Mas, também o remédio continua sendo o mesmo que está registrado em 1 João 2.3-6, principalmente o versículo 6, “Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou”.


Pr. Valter Ribeiro Nogueira e Pr. Carlos Alberto Moraes






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