Estive pensando nos últimos dias e quero compartilhar aqui sobre as expectativas que criamos em relação aos nossos filhos e como nos sentimos quando essas expectativas não são atendidas e como Deus lida conosco enquanto o nosso Pai.
Em primeiro lugar precisei entender que as nossas expectativas, nós as criamos e não há nada de errado nisso. Todos os pais têm expectativas para com os seus filhos. Normalmente essas expectativas giram em torno de comportamentos, atitudes e sentimentos. São projeções que nascem naturalmente, desde o momento em que desejamos conceber até a chegada de um filho, e à medida que os nossos filhos nascem e se desenvolvem, as nossas expectativas em relação à vida e ao futuro deles mudam, e via de regra, aumentam.
A psicologia considerada até certo ponto que ter expectativas é saudável, pois elas ajudam a planejar e tomar atitudes ao longo da jornada. Contudo, nos frustramos como pais diante de expectativas não atendidas porque “esquecemos”, ou não nos damos conta que as expectativas que criamos foram baseadas apenas no que nós, os pais desejamos para os nossos filhos, esquecendo de considerar que as crianças e os adolescentes são indivíduos que desenvolvem os seus próprios desejos ao longo da vida.
Claro que como pais queremos o melhor para eles, temos muitas experiências que poderiam ajudá-los, mas não é tão simples assim. A nossa história de vida, lembranças (boas ou ruins) que carregamos ao longo da nossa história, as nossas experiências impactam de forma direta na educação que ofertamos aos nossos filhos e nas expectativas que criamos em relação a eles. Acredito que um dos nossos grandes desafios é não transformar as nossas expectativas em projeções, ou seja, devemos cuidar para não projetar sobre os nossos filhos, os nossos sonhos e desejos não realizados. Devemos lembrar que os nossos filhos não são uma extensão de nós, mas são indivíduos que desenvolvem os seus próprios desejos ao longo da vida, assim como nós o fizemos.
Outro grande desafio no processo que atravessamos na educação dos nossos filhos é que junto do amor, carinho e orgulho, a relação também nos faz experimentar outras sensações mais difíceis como vergonha, raiva e frustração. Por uma contingência da sociedade e da cultura a que estamos submetidos vivenciamos continuamente a cobrança de não falhar e ser sempre uma referência de segurança e cuidado, e quando não damos conta disso, sentimos culpa e uma sensação de fracasso ao não corresponder às expectativas. Esquecemos que vivemos em um mundo caído, onde todas as relações foram afetadas pelo pecado e as nossas expectativas projetadas nos nossos filhos e o nosso relacionamento com eles também são afetados por isso.
A nossa idealização em relação aos nossos filhos surge de um desejo de que tudo seja perfeito, ignorando a realidade e as imperfeições naturais de um mundo caído e que jaz no maligno. Vale destacar a diferença entre ideal e idealização. Ideal diz respeito ao que projetamos como realização: — “quero ser mãe de uma menina, quero que nasça saudável, etc.”. Isso é um ideal e é saudável, faz parte do nosso desenvolvimento como pessoa. Idealizar significa projeta algo perfeito, onde não ocorram falhas e isso é impossível de acontecer.
Primeiro porque não temos controle sobre tudo, todo o tempo. Precisamos assumir a nossa humanidade e aceitar que não somos perfeitos e não podemos conceber que teremos filhos perfeitos, que nunca falhem. Por mais que nos doa e esta é uma verdade que me causou muita tristeza e sofrimento ao longo da minha experiência de maternidade, é aceitarmos que os nossos filhos farão escolhas com as quais não concordaremos. É muito difícil para nós pais, aceitarmos que os nossos filhos não serão sempre felizes, nem farão sempre as melhores escolhas.
Mas podemos passar por esse momento olhando para a Palavra de Deus e aprendendo com as escrituras. A parábola do filho Pródigo (Lucas 15:11-32) é um belo ensinamento que Jesus nos deixou e dentre outras lições, nos permite ver como devemos agir como pais, tendo como exemplo nosso Pai Celestial, retratado na parábola. O filho da Parábola não fez uma boa escolha quando decidiu pedir ao pai a sua herança antecipadamente, antes da morte do pai e pior, ir embora para longe, gastando tudo de forma inconsequente.
A parábola nos mostra o quanto o Pai sofreu com aquela decisão do filho. Que não era aquela escolha que o Pai esperava! Que a sua expectativa era que o filho ficasse junto dele, desfrutasse da sua companhia, aprendesse com ele e na hora certa, recebesse a sua herança e a usasse de forma sensata e responsável. A parábola nos mostra um pai com o coração sangrando, sofrendo com a decisão do filho, mas que não gritou, não agredir por meio de palavras insultuosas, injuriosas, com ofensas, destratando ou ameaçando.
O Pai respeitou a decisão do filho e respeitar não significa aceitar qualquer coisa. Devemos transmitir nossos valores, aquilo que para cada um de nós é inegociável, devemos oferecer limites, mas isso não significa tomar decisões e fazer escolhas por eles. Na parábola, o texto não nos diz como o pai reagiu, se argumentou, se chorou... Só diz que ele repartiu a sua propriedade entre os filhos e ficou esperando. Acredito que ficou orando por aquele filho. Acreditando que tudo que ele havia ensinado ao filho iria fazer diferença na mente e no coração dele em algum momento, e fez.
A parábola termina dizendo que o filho “caiu em si” e voltou para o Pai, que o recebeu de braços abertos, que o acolheu como ele estava, com todos os seus pecados e imperfeições. A parábola não nos mostra o pai acusando o filho, apontando o dedo dizendo: — “eu te avisei! Eu sabia que você ia se da mal! Eu sabia que você ia quebrar a cara!”. O texto sagrado nos mostra um pai emocionado e feliz pela volta do filho ingrato, que escolhe acolher, abraçar e comemorar ao invés de reclamar, acusar e humilhar.
Ainda hoje, Deus continua nos tratando como o filho ingrato da parábola. Ele planejou um caminho para o seu relacionamento conosco, os seus filhos, mas o pecado afastou-nos do que Deus planejou para nós. Ele não mudou o plano inicial, que era ter relacionamento íntimo conosco, mas mudou o caminho para alcançar este objetivo que hoje passa pela Cruz de Cristo. Enquanto nós continuamos rebeldes e fazendo as nossas próprias escolhas, Deus continua esperando, de braços abertos por nosso arrependimento e retorno. Que possamos aprender com o nosso Pai celestial a sermos pais misericordiosos! Lembremos que os nossos filhos são primeiro filhos Dele e então descansarmos na sua soberania e graça.
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Autora: Maria Genaina de Almeida Ribeiro Reder
Casada há 27 anos. Mãe de um casal de filhos (25 e 18 anos)
Membro da Igreja Batista em Jardim Paulista Guarulhos SP
Servindo no Ministério de Ensino. Professora aposentada
Contato: primeiroped@gmail.com
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