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Foto do escritorEdição JA

Memórias do Lixão

Meus amigos, nessa madrugada Jesus despertou a minha mente e guiou o meu coração até o passagem do evangelho de João 13.35, que diz: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.”

 

Enquanto lia e relia o verso fui pedindo para que a iluminação do Espírito Santo conduzisse a minha compreensão até a profundidade dessas palavras divinamente inspiradas. Foi nesse momento de súplica que fui assaltado pela memória de uma cena que vivi em uma viagem que fiz para a Índia.


No dia dessa memória fui conhecer uma escola que ficava literalmente em um lixão situado no interior de um estado indiano chamado Andra Pradexe. A condição era tão insalubre que os irmãos locais deram tampões para colocarmos no nariz e não sofrermos com náuseas e, consequentemente, com vômitos.

 

A escola do lixão abrigava 80 crianças da casta conhecida como Dalit. Os Dalits são reconhecidos pela religião hinduísta como indivíduos que nasceram esmagados pelos pés da divindade hindu e, portanto, estão abaixo da dignidade humana e à mercê de qualquer crueldade.

 

Voltando para a história…o prédio da tal escola era uma espécie de tapera de madeira, pequeno para a sua finalidade. As 80 crianças eram divididas em quatro turmas de 20 alunos; cada turma estudava em um canto do casebre, sem nenhuma divisória e tão pouco isolamento acústico. A situação era a seguinte: quatro turmas, quatro professoras, quatro conteúdos e todos ouvindo tudo ao mesmo tempo. O que achou do planejamento educacional deles? Mas pasmem, as crianças aprendiam e eram geniais.

 

No ritmo da história é importante dizer que o grupo no qual eu estava, recebeu um briefing desse contexto complexo durante o deslocamento para o lixão. Essas informações foram causando um sentimento de misericórdia em face de toda a situação, bem como um imenso desejo de chegar e abençoar as crianças. Depois de algumas horas de uma difícil viagem, chegamos no lixão.  Assim que descemos do carro e colocamos os tampões no nariz, vimos algo muito impactante. A entrada da pequena escola de madeira estava toda decorada com enfeites coloridos, cartolinas brancas estampando versículos bíblicos e um conjunto de letras brilhantes compondo a seguinte frase: “We pray for you” (nos oramos por você). Aquilo foi confuso e ao mesmo tempo constrangedor.

 

Continuamos a nossa visita por cerca de duas horas inteiras. Conversamos sobre a Bíblia com as crianças e professoras, cantamos músicas que exaltavam Jesus, fizemos brincadeiras divertidas e, como nunca podia faltar, comemos banana com todos eles. Mas foi no final da visita que a memória que eu carrego aconteceu.

 

Uma mulher que estava no grupo tomou coragem e fez a pergunta de “um milhão de dólares” para a diretora da escola (uma das quatro professoras): como vocês podem nos receber com tanta alegria e dizer que estão orando por nós enquanto vivem em condições tão terríveis? A diretora (uma mulher cristã, de casta alta, e que abandonou um excelente emprego público para amar e ensinar aquelas crianças) respondeu: “Porque antes de vocês passarem pela nossa escola, Jesus já tinha passado e, quando Jesus passa, aprendemos a repartir aquilo que recebemos”. A diretora continuou e concluiu: “um dia habitaremos o mesmo céu na presença do mesmo Cristo e não seremos mais divididos por classes sociais ou castas religiosas; é exatamente isso que queremos que as nossas crianças entendam”. Uau!!! Que discípula de Jesus era aquela diretora! Aquela senhora apareceu para mim como uma linda flor que Jesus plantou no meio daquele lixão, para espalhar o aroma do seu bom perfume de vida.

 

No dia da minha memória sai do hotel e fui para a escola do lixão crendo que eu iria levar algo de Jesus para aquelas crianças. Eu estava certo de como seria útil a minha formação teológica e a minha pseudos visão ocidental evoluída. Porém, Jesus tem um desconcertante hábito de passar antes, de chegar primeiro e deixar sua marca de amor nos lugares mais improváveis.

 

A memória que trago daquele lixão é o cheiro do amor de Cristo que encontrei ali. Aprendi a reconhecer os discípulos de Jesus por uma marca que vai para além de conjuntos doutrinários e ritos dominicais. Reconheci discípulos de Jesus que fluíam um amor que só pode ser encontrado na fonte do próprio amor, o Deus eterno e pai do nosso senhor Jesus Cristo.


Pr. Joel Neto com a esposa Mônica, e os filhos: Ana Luiza, 16 anos; Isabel, 13 anos e Efraim, 11 anos.

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Joel Alves de Sousa Neto

Professor do Seminário Bíblico Palavra da Vida em Atibaia, SP

Pastor da REVIVE - Igreja Batista em Atibaia, SP

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